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terça-feira, 18 de setembro de 2012

O Filho




Em algum momento de 1988 chegara a hora de fazer a ultrasonografia na qual se poderia saber o sexo do bebê. Minha avó Maria e eu queríamos saber; por motivos distintos. Ela torcia por uma menina porque a última que havia nascido, na família Guimarães, havia sido eu. Trinta anos depois, ela achava que eu viraria esse jogo. Seu desejo não foi cumprido, não nessa ocasião e nem por mim. Quando a médica disse "é um menino!", minha avó soltou um "ai" da dor da decepção. Quanto a mim, cantarolei em minha mente o trecho da ópera rock 'Tommy', do the Who: "It's a boy, Mrs Walker, it's a boy". A lembrança do coro, impressionante, retumbava na minha lembrança: "A son! ... A son!"
Essa música entrou no meu coração de menina de 16 anos me arrepiando os cabelos de emoção; por causa dela eu soube: desejava ser mãe de um menino.
Não havia nome escolhido para menina, tínhamos apenas 'Eduardo'. A escolha foi minha e aceita prontamente pelo pai. Era o nome de seu falecido pai e a homenagem seria mais um presente em nossa vida.
Escolhi esse nome porque os Eduardo que orbitavam minha vida eram pessoas muito queridas. Desde criança brinco de colorir os nomes (de pessoas e objetos) e Eduardo foi colorido de amarelo e laranja dourados, como as cores do pôr do sol - as pessoas chamam isso de sinestesia, chamo de brincadeira de criança. Eu jamais teria um filho colorido de cinza, marrom, branco, preto ou outra cor neutra.
No momento em que soube que meu mais profundo e inconfessável desejo foi satisfeito, conversei com Deus. Fiz um pedido em forma de desejo; mentalizei o desejo de um filho feliz, de excelente caráter, inteligente, querido pelos que o rodeiam, amigo, amoroso, amigo da família, estudioso e tranquilo. Ao desejar esse Eduardo, lembrei de um outro, um amigo de infância. O Edu era tudo isso - penso que ele seja. Encerrei minha conversa com Deus 'dizendo': tipo o Edu.
O poder das palavras, ou dos desejos, é algo que não posso negar que exista, mas sempre me impressiona. Não desejei beleza, cor ou tipo de cabelo, altura ou cor do olhos. Para minha surpresa, nasceu um Edu mais caprichado, pelo menos na minha opinião de mãe coruja.
Meu Eduardo foi lindo desde o primeiro dia; desejei lindo por dentro, mas recebi de bônus um filho lindo, em todas as idades, também em sua aparência.
Como de hábito, mantive essa constatação em segredo por algum tempo. Precisei desistir do intento quando uma grande amiga do trabalho me repreendeu em seu sotaque 'portunhol': "Susaninha, bonitinho é o meu filho, o seu é lindo!"
O dia mais feliz da minha vida não foi o nascimento do meu filho; esse foi o dia mais apavorante de todos. Filho é responsabilidade e ligação profunda de uma vida toda - e quem sabe de todas as vidas que possam haver? Mas foi um dia mágico de transformação do medo em o mais profundo amor.
Minha felicidade é contínua; todos os dias em que percebo que aquela minha primeira conversa com Deus sobre o meu Eduardo surtiu efeito, sorrio por dentro, maravilhada pelo filho que ganhei na minha vida.
Canto a música "Children and all that jazz", na minha mente, pela boca de Joan Baez, e me fixo em partes da música que também me arrepiavam quando eu tinha 19 anos: "you go to bed, now...you're smarter than I am"

Estou em Genebra e hoje já é 19 de setembro. Meu filho completa 24 anos de vida e estou longe. Novamente converso com Deus e agradeço; ratifico meus desejos para o meu filho e tenho a confiança de ser atendida.

O melhor de mim, o fruto e objeto do meu amor: meu filho. Parabéns para você e eu!

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3 comentários:

leop10 disse...

Uma Rainha se superando para descrever seu sentimento para com o seu Príncipe amado.

Lúcia Motta disse...

Maravilha, a Antuérpia fica honrada com seus textos, Rainha. Beijos e parabéns pra você.

Susanices disse...

Vocês são grandes amigos, mesmo!